Gestora de formação, trabalhou 20 anos numa empresa. Desde que, há cinco anos, ficou desempregada, é voluntária na Entrajuda-Banco de Bens Doados, como responsável pelo Abastecimento. Diz que é da "carreira" de voluntária que gosta e não tenciona mudar. Aos 50 anos, o seu empenho valeu-lhe, recentemente, o Prémio Mulher Activa.
É verdade que lhe deram hipótese de voltar à actividade profissional e preferiu continuar voluntária?
Sim. Foi uma decisão que tive de ponderar, pelo que implicou de algumas restrições para a minha família, mas foi possível porque o meu marido trabalha. E considero um privilégio poder fazer aquilo de que gosto.
Como vê essas duas fases da sua vida? É idêntico ter responsabilidades numa empresa e numa instituição de voluntários?
Em qualquer organização há que ser profissional. Encaro o meu trabalho aqui como se fosse pago. E prefiro este. As empresas orientam-se muito pela competitividade, enquanto o voluntariado traz ao de cima o que há de melhor nas pessoas. Trabalhar neste sistema torna-nos diferentes. Costumo dizer que já ganhei o euro milhões muitas vezes...
Como é hoje o voluntariado em Portugal? Semelhante ao de outros países?
Nos Estados Unidos, por exemplo, faz parte do programa escolar dar umas horas de trabalho semanal à comunidade. No final do ano há que apresentar um relatório carimbado, a atestar a passagem por uma instituição desse tipo. Em Portugal não existe tanto essa cultura de voluntariado. Embora ultimamente isto esteja a mudar e venham aparecendo mais voluntários.
O maior problema da Entrajuda é, então, a falta de voluntários?
Só de voluntários qualificados e comprometidos. Isto é, interessam-nos pessoas que assegurem regularidade. Preferimos que em vez de dois dias por semana, dêem apenas umas horas, mas que possamos contar com elas.
Qual é exactamente o vosso trabalho?
Apoiamos 1200 instituições. Dessas, só 500 recebem o nosso cabaz mensal, sobretudo produtos de higiene, desde papel higiénico a fraldas. Quando temos donativos pontuais, então chamamos outras. Se hoje nos aparecer tinta para pintura, mandamos um e-mail, e quem precisar vem buscar.
Então, como é financiada a Entrajuda?
Exlusivamente por donativos, quer de empresas, quer de particulares. Também nos candidatamos a programas comunitários, como fizemos para a ligação das nossas instituições à internet. E temos o apoio de uma fundação internacional para a saúde, a Fundação Stavros Niarchos. De um modo geral, compramos 10% do que doamos.
Entrevista na integra em:
Revista Visão
(edição de 15.04.2010)
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